13 de setembro de 2010

Ampla pesquisa histórica em "O Velho, a história de Luiz Carlos Prestes"

Ao assistir ao filme O Velho, a história de Luiz Carlos Prestes o espectador percebe a presença de uma variada gama de imagens, de diferentes assuntos e temporalidades. A variedade de imagens de arquivo, de filmes, imagens inéditas, depoentes e temas tratados, indicam uma “ampla pesquisa” durante sua realização. Esse fato, em si, seria suficiente para considerar que fora um documentário bem feito, com preocupações em abordar o tema de maneira profunda e séria. No entanto, a realização de uma “ampla pesquisa” não define, claro, a qualidade do filme, mas uma prática de pesquisa.

A história contextual narrada pelo documentário apresenta a clássica explicação: da Revolução de 30, Estado Novo, suicídio de Vargas, governo otimista de JK1, governo curioso de Jânio, movimento conturbado com Jango, AI-5 como exacerbação da ditadura2, luta armada a favor da democracia. No entanto, esses “fatos” são vistos como inquestionáveis. São tratados na tela como dados da realidade e não frutos de processos de construção de interpretações históricas. O procedimento de pesquisa adotado para o filme lida com os fatos como dados a priori, desconsidera a complexidade do processo de construção de abordagens históricas, de construção de fatos. E desconsidera o próprio processo de construção de interpretações históricas do qual o próprio filme é parte. Aqui, os “documentos” levantados na pesquisa foram utilizados como dados recebidos e encaixados numa narrativa como se esses dados, e esse processo, não fossem parte de uma “operação”: um momento de manipulação e elaboração de uma argumentação.

O levantamento para o filme foi grande, até em função do próprio tema e da proposta de abarcar um longo processo histórico, no entanto, levantar documentos, organizar, selecionar, não significa simplesmente “recolher” prontos tais documentos, mas produzi-los. A postura diante da pesquisa de temas históricos demonstra um procedimento dentre muitos outros possíveis. Demonstra a concepção dos realizadores e as escolhas possíveis de um determinado modo de fazer. Essa mesma postura, que desconsidera o processo de produção das explicações históricas, é semelhante à postura de desconsiderar o processo de produção de imagens. Assim, tanto fatos quanto imagens foram tratados nesse filme como se não tivessem passado por processos de produção.

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