26 de julho de 2016

Os segredos da Tribo (José Padilha, 2013)

O documentário "Segredos da Tribos" (José Padilha, 2013) é uma narrativa instigante que nos leva a questionar sobre os interesses por trás de trabalhos acadêmicos, e, mais especificamente, as graves denúncias em relação ao contato de um grupo de antropólogo com o povo Yanomami. Com uma construção narrativa envolvente, o filme vai mostrando aos poucos a problemática e parece que preparando o espectador para uma grave denúncia. A tensão inicial, lançada por um membro do povo Yanomami parece desproporcional, mas, aos poucos, a situação vai sendo esclarecida.
A narrativa gira em torno de Napoleon Chagnon, autor de um importante livro sobre os Yanomamis, que criou uma imagem de que são um povo "sem medo". Contraposto a ele, está Kenneth Good, também estudioso do tema, mas cuja problemática está no fato de ter se casado com uma moça do povo Yanomami, muitos anos mais jovem que ele, sendo que foi prometida ao mesmo enquanto criança/adolescente. A questão cria um certo estranhamento, mas ainda parece aceitável. 
Além da narrativa denúncia, o documentarista adota um procedimento muito interessante. Enquanto um entrevistado fala de outro (em alguns casos em tom de acusação), são inseridas imagens daquele que é alvo da "crítica" como se ouvisse o outro, estando, claro em outro espaço, em outro tempo.
Jacques Lizot, no entanto, é alvo de uma crítica muito mais séria. "Discípulo" e avalizado por  Claude Levi-Strauss, é acusado por indígenas, e também outros depoentes, de propor e praticar trocas sexuais com jovens, incentivando, com isso, a prostituição entre eles. Chagnon é também acusado da morte de um grande número de pessoas do povo em função de um surto de sarampo e a aplicação de uma vacina, com fins "científicos", extremamente forte e danosa.
Ao final, homenageado em um evento científico, Chagnon parece "inocentado". As imagens do comércio característico desse tipo de evento, e o plano mostrando outros livros, fruto de outras pesquisas, pode levar o expectador a pensar: quantas outras histórias como essa não estão por trás dessas pesquisas?