Ao final, emocionante. O filme, que narra a trajetória de Olga Benário, começa em marcha lenta, com muito melodrama e estende-se por longas cenas encadeadas e sonorizadas por melodias finalizadoras. O ritmo do filme parece destoar do dinamismo possível do meio cinematográfico, e do tema abordado. Muitas elipses foram desperdiçadas. A história de Olga, no entanto, cheia de momentos intensos, vai ganhando força e o filme vai ficando mais instigante e emocionante com o passar da hora. Para os professores de história, o filme pode ser um prato de entrada que abre o apetite dos desavisados pelo passado. Os alunos podem sair do filme cheios de dúvidas, perguntas, admirações e raivas. E isso é bom, é um passo para a sensibilização necessária no ensino de história. (V.A.F.)
O filme Trindadeiros (Trindade para trindadeiros), a partir de um diálogo constante entre presente e passado, narra a luta dos habitandes da Trindade pela posse da terra, na década de 1970. O filme traz depoimentos de participantes dessa luta acirrada num momento crítico da história do país. É uma história audiovisual das batalhas e dos choques entre o "progresso" devastador e as comunidades caiçaras nas quais estão em jogo modos de vida e valores humanos e ambientais.(V.A.F)
O filme tem uma proposta interessante: narrar a vida de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, a partir do depoimento de Joana Lopes ao historiador Rodrigo José Ferreira Bretas. Mas, esbarra em muitas dificuldades, dentre elas os diálogos forçados e as atuações pouco convincentes. Ao longo da narrativa, o filme transborda anacronismos através de diálogos analíticos que fazem emergir da boca dos personagens idéias construídas em tempos futuros. (V.A.F.)
Trecho do filme
Ficha Técnica:
Direção: Geraldo e Renato Santos Pereira
Ano: 2001
Produção: Geraldo Santos Pereira
Direção de Produção: Jayme del Cueto
Direção de fotografia: Cláudio Portioli
Direção de arte: Paulo Henrique Pessoa
Roteiro e diálogos: Geraldo e Renato Santos Pereira
Montagem: Vera Freire
Cenografia: Marco Antorio Rocha
Figurinos: Raul Belém Machado
Música: Edino Krieger
Atores: Maurício Gonçalves, Maria Ceiça, Wilma Henriques, Antônio Naddêo
Num espaço atemporal do porão da alfândega (apesar do filme estar situado em 1945), os personagens Segismundo e Clausewits vão apresentando, aos poucos, suas memórias, inicialmente negadas. Os personagens parecem esconder o passado, no entanto, aos poucos vão narrando e assumindo as próprias identidades. No confronto entre as palavras do imigrante polonês, testemunha dos horrores da II Guerra Mundial, e as do agente alfandegário (ex-torturador da polícia política), o filme traz reflexões sobre o narrável e o não-narrável. O personagem Segismundo põe em discurso palavras sobre as torturas cometidas que Clausewits achava impossível dizer em português. Assim, é revelado a ele que o Brasil também vivenciou horrores nos "porões da ditadura" (seja a de Vargas, seja a dos militares), contrariando a imagem positiva e ingênua criada pelo imigrante. O filme, adaptação da peça teatral "Novas Diretrizes em Tempos de Paz" de Bosco Brasil, coloca em questão a memória, sua narrativa e o julgamento. Ao personificar e humanizar um torturador que mensagem o filme constrói? Essa discussão me faz lembrar de Paul Ricoeur em seu livro Memória, História, Esquecimento, no qual discute a necessidade de criar uma memória justa através do trabalho de luto, e, para isso, é necessário narrá-las. O filme coloca em questão a memória e o julgamento da Ditadura Militar. (V.A.F.)