Num espaço atemporal do porão da alfândega (apesar do filme estar situado em 1945), os personagens Segismundo e Clausewits vão apresentando, aos poucos, suas memórias, inicialmente negadas. Os personagens parecem esconder o passado, no entanto, aos poucos vão narrando e assumindo as próprias identidades. No confronto entre as palavras do imigrante polonês, testemunha dos horrores da II Guerra Mundial, e as do agente alfandegário (ex-torturador da polícia política), o filme traz reflexões sobre o narrável e o não-narrável. O personagem Segismundo põe em discurso palavras sobre as torturas cometidas que Clausewits achava impossível dizer em português. Assim, é revelado a ele que o Brasil também vivenciou horrores nos "porões da ditadura" (seja a de Vargas, seja a dos militares), contrariando a imagem positiva e ingênua criada pelo imigrante. O filme, adaptação da peça teatral "Novas Diretrizes em Tempos de Paz" de Bosco Brasil, coloca em questão a memória, sua narrativa e o julgamento. Ao personificar e humanizar um torturador que mensagem o filme constrói? Essa discussão me faz lembrar de Paul Ricoeur em seu livro Memória, História, Esquecimento, no qual discute a necessidade de criar uma memória justa através do trabalho de luto, e, para isso, é necessário narrá-las. O filme coloca em questão a memória e o julgamento da Ditadura Militar. (V.A.F.)
Trailer do filme
- Veja alguns textos:
- Crítica: MERTEN. Tempo de paz
- Crítica: AVELLAR, Marcelo. Tempos de paz. Cinema é interpretação
- Artigo: SANTOS e CARDOSO. A Globo Filmes e o cinema de mercado:padronização e diversidade
Monólogo de Clausewits/Segismundo (para rever)
- Ficha Técnica:
- Direção e Produção: Daniel Filho
- Roteiro: Bosco Brasil
- Montagem: Diana Vasconcellos
- Direção de Fotografia: Tuca Moraes
- Direção de Arte: Marcos Flaskman
- Música: Egberto Gismont
- Ano de Lançamento: 2009
- Duração: 80 minutos
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